A proporção de consumidores endividados no país recuou para 79,2% em novembro, segundo a Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC. A queda foi de 0,3 ponto percentual em relação a outubro, interrompendo uma sequência de nove meses seguidos de alta. Ainda assim, o indicador está 2,2 pontos acima de novembro do ano passado, quando 77% dos consumidores estavam endividados.
Para empresas e gestores, o recado é duplo: há um leve alívio no curto prazo, mas o consumidor continua mais comprometido que em 2024. Isso afeta diretamente varejo, serviços e qualquer negócio que dependa de vendas a prazo, ticket médio mais alto ou uso intenso de crédito ao consumo.
O que os números mostram
- Endividados:
- Novembro: 79,2%
- Outubro: 79,5%
- Novembro do ano passado: 77%
- Inadimplência (atraso de pagamento):
- Novembro: 30%
- Outubro: 30,5%
- Percepção de endividamento:
- “Muito endividados”: caiu para 16%
- “Pouco endividados”: subiu para 32,8%
Lembrando: a Peic considera endividados todos os consumidores com parcelamentos em cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnês, empréstimos pessoais e prestações de casa e carro, mesmo em dia.
Impacto prático para negócios
1. Consumo ainda pressionado
Mesmo com a pequena melhora, quase 8 em cada 10 consumidores têm algum tipo de dívida. Isso significa:
- Menos espaço no orçamento para novas compras a prazo.
- Maior sensibilidade a preço, prazo e juros.
- Decisão de consumo mais lenta e comparativa.
Empresas que dependem de financiamentos longos (como móveis, eletro, educação, saúde privada) precisam considerar que o cliente chega mais “apertado” do que no ano passado.
2. Leve alívio no risco de calote, mas não é hora de relaxar
A queda de 30,5% para 30% de inadimplentes indica um ajuste, mas em patamar ainda alto. Para a gestão:
- Mantém-se a necessidade de política de crédito conservadora, com boa análise de risco.
- Programas de renegociação e recuperação de crédito seguem relevantes.
- Quem tiver dados e modelos para diferenciar bom e mau pagador ganha vantagem competitiva.
3. Mudança no “humor financeiro” do consumidor
O recuo dos “muito endividados” (16%) e o aumento dos que se veem como “pouco endividados” (32,8%) sugerem:
- Um ambiente ligeiramente mais favorável a retomar consumo em alguns segmentos.
- Possibilidade de alongar prazos ou oferecer upgrades para clientes com bom histórico, desde que com controle.
O que gestores deveriam fazer agora
- Rever campanhas de fim de ano e início de ano letivo
- Foco em planos acessíveis, parcelamentos claros e sem surpresas.
- Comunicação forte em transparência de juros e condições.
- Ajustar política de crédito
- Segmentar clientes: quem está em dia pode receber oferta de mais prazo ou limite, sempre com regra e análise.
- Intensificar monitoramento de atrasos curtos (até 30 dias) para evitar que virem inadimplência longa.
- Oferecer alternativas de pagamento
- Pix, débito e pagamento à vista com incentivo para reduzir dependência de crédito caro.
- Parcerias com financeiras ou bancos para diluir risco, em vez de carregar tudo no balanço da empresa.
- Cuidar do fluxo de caixa
- Não contar com crescimento forte de vendas a prazo no primeiro semestre apenas porque há uma pequena melhora nos indicadores.
- Simular cenários com inadimplência estável ou ligeiramente maior, para evitar surpresa.
E para Santa Catarina?
Os dados da Peic são nacionais e não detalham SC neste recorte que você trouxe. Sem o recorte regional, não dá para afirmar se o estado está melhor ou pior que a média, e é importante reconhecer essa limitação.
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Mas, pelo perfil econômico de SC (renda média acima da nacional, forte presença de indústria, serviços e comércio organizados), é razoável supor que:
- O comportamento do consumidor catarinense acompanha a tendência nacional,
- Porém com diferenças por região (litoral x interior) e por faixa de renda.
Empresas locais devem olhar seus próprios indicadores: inadimplência da carteira, ticket médio, giro e conversão de vendas a prazo.
Em resumo
Há um sinal de melhora, mas em um cenário ainda pressionado. O empresário não deve ler essa queda como “volta ao normal”, e sim como espaço para ajustar estratégias de crédito, reforçar gestão de risco e preparar terreno para crescer com mais segurança quando o endividamento se aproximar de níveis mais baixos.




