Sim, estamos super lotados de informações, por isso, ao escrever essa minha primeira coluna, demorei até decidir por onde começar.
Mais do que falar de marcas, eu penso sobre a vida que acontece enquanto marcas e profissionais das marcas co-existem. Enquanto negócios precisam lucrar, marcas se destacarem e nós, além de trabalharmos, vivermos. Por isso, em respeito ao tempo escasso, prometo ser breve nas minhas introduções, então vamos ao que interessa.
O excesso não é de IA, é de adoção sem direção
Parte do excesso que vivemos hoje (positivo e negativo), vem da avalanche que vivemos em torno da inteligência artificial. E nesse contexto, a maioria de nós, não sabe como o futuro se apresentará. Mas uma coisa é certa, precisaremos nos adaptar.
Lendo um artigo da executiva e coach Marlo Lyons para a Harvard Business Review, ela destaca a importância da adaptabilidade e como essa característica se tornou um dos principais diferenciais das lideranças.
Saber e demonstrar (ela destaca esse ponto) agilidade, resiliência e visão de futuro no dia a dia, faz com que possam provar que sabem liderar em meio à incerteza, em vez de serem paralisados por ela ou apegados ao status quo.
Os pilares da adaptabilidade
Ela destaca que a adaptabilidade se apoia em três pilares:
1. Agilidade.
Agilidade é a capacidade não apenas de mudar rapidamente quando as prioridades mudam, mas também de levar as pessoas junto nesse movimento.
2. Resiliência.
Resiliência é manter a compostura sob pressão e sustentar a performance em períodos turbulentos. Demissões, reestruturações, mudanças econômicas e fusões testam a estabilidade emocional dos líderes. Aqueles que demonstram calma e foco criam mais facilmente segurança psicológica em suas equipes.
3. Visão de futuro.
A visão de futuro separa gestores reativos de líderes visionários. É a capacidade de olhar além das métricas atuais e antecipar desafios futuros, analisando dados de mercado, movimentos da concorrência e sinais iniciais de disrupção antes que impactem a organização.
Ter um norte para ajudar na adaptabilidade
Eu faço a conexão de que, para ter agilidade, resiliência e visão de futuro, é necessário saber onde se deseja chegar e porque se deseja chegar. O “como” chegar pode mudar, e até o “onde” também, mas talvez com menos intensidade. Fato é que, as empresas que não possuem um direcional estratégico claro, do que desejam como negócio e marca, dificilmente conseguirão se adaptar com qualidade.
Como ter agilidade se não se tem um direcional que dê pistas do caminho?
Como ter resiliência sem saber porquê tem que ser feito o que precisa ser feito?
E por fim, como ter uma visão de futuro se não há ideia de como queremos estar nesse futuro, o que importa para nós e com quais concessões seguiremos novos caminhos.
O desânimo de não saber
O que acontece em meio a tudo isso, é que muitas pessoas por não saberem o que o futuro traz, por esse futuro ser cada vez mais imprevisível, desistem de planejar, de projetar e isso faz toda a diferença.
Vamos de analogias que eu amo? A gente não pode deixar de cuidar da saúde só porque não sabe se irá de fato envelhecer, não é mesmo? Travar diante da incerteza não pode ser uma opção.
Para somar ao meu pensamento trago um brilhante trecho, da carta anual da Amy Webb que é uma futurista renomada e CEO do Future Today Strategy Group, responsável por antecipar tendências tecnológicas e orientar empresas e governos na tomada de decisões estratégicas de longo prazo.
“Assim como outras tecnologias, a IA é uma inovação de maratona em um mundo de financiamento de corrida de 100 metros. O descompasso entre ciclos longos de desenvolvimento e expectativas imediatas dos investidores é onde as bolhas nascem. No último ano, vi empresas demais investindo em IA sem antes desenvolver uma estratégia clara e de longo prazo.” E ela ainda reforça que as mudanças são sistêmicas e não exclusivas a um ou outro setor. “O papel de um líder em 2026 é garantir que a organização consiga se adaptar quando o próprio código dos negócios, da natureza e da verdade começar a mudar.”
A sugestão para esse final de 2025 ou início de 2026
Parar. Pensar e então, planejar essa tal de “estratégia clara e de longo prazo” que, nem sou eu quem está falando, mas a Amy Webb. Planejar estrategicamente com as informações que existem, ainda que elas não sejam suficientes. O que não dá é para ficarmos no mesmo modus operandi de execução desenfreada, seja em tarefas rotineiras, seja na adoção de IA em processos internos.
Extra
Para fornecer um pouco mais de luz ao planejar sugerido, trago das 10 tendências que Amy apresenta em seu relatório de final de ano, três delas que transcrevo de forma resumida, para termos em mente em 2026, pois acredito que elas estão mais próximas de acontecer e afetar todos segmentos:
1: A internet pós busca
A “internet pós-busca” descreve a virada em que a busca e a navegação por abas/links deixam de ser o padrão, porque IAs passam a executar a navegação por nós dentro do próprio navegador. A interface vira conversa + intenção: em vez de “pesquisar no Google”, você pergunta para a IA e ela entrega a resposta e até concluir a compra, sem ads, afiliados ou cliques.
2: Ascensão do trabalho ilimitado
A “ascensão do trabalho ilimitado” acontece quando a robótica supera sua principal barreira: a cognição. A partir de 2026, robôs passam a aprender observando humanos, ganhando contexto, adaptação e autonomia no mundo físico. Isso cria um “momento ChatGPT” para a robótica. O impacto não virá só de humanoides, mas de milhões de robôs especializados, atuando em fábricas, logística, saúde, agricultura e serviços. O ponto central não é a substituição de empregos, mas quem vai controlar esse novo trabalho escalável, incansável e potencialmente ilimitado.
3: Armamentização da confiança
Acontece quando a IA torna a realidade facilmente falsificável. Voz, imagem e vídeo passam a ser reproduzidos com precisão, transformando golpes e manipulações em ações rápidas, baratas e altamente convincentes. O risco deixa de ser só fraude pontual e passa a ser sistêmico: marcas, relatórios, comunicações e até crises geopolíticas podem ser baseadas em “provas” fabricadas. O ganho é escala de comunicação; o custo é a erosão da confiança. O desafio central para líderes é como verificar o que é real quando a verdade se torna infinitamente manipulável.
Adeus ano velho e feliz ano novo
Se existe algo que este excesso de IA nos ensina, é que tecnologia sem direção não gera vantagem, só acelera o que já está desalinhado e traz mais ruído e cansaço.
Planejar estrategicamente para 2026 não é tentar prever o futuro com precisão. É definir princípios, escolhas e limites que ajudem a tomar boas decisões quando o inesperado acontecer.
A pergunta para encerrar este ano não deveria ser “qual IA eu vou adotar?”, mas sim: quem queremos ser como negócio, como marca e como liderança quando o cenário mudar de novo?.
Planejar não é controlar o futuro. É criar um norte interno quando tudo ao redor muda rápido demais. É isso que sustenta agilidade, resiliência e visão de futuro.
Colunista

Daniela Dalmolin Feldens
Especialista em comunicação e branding, com mais de 15 anos de experiência em estratégia de negócios, marketing e desenvolvimento de produto, com forte atuação no setor têxtil. Idealizadora de missões internacionais e também escritora, palestrante e TEDx speaker.
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